data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)
Ana Paula Moreira Rovedder é coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Recuperação de Áreas Degradadas (Neprade) da Universidade Federal de Santa Maria
O trabalho de restauração ecológica desenvolvido pela professora Ana Paula Moreira Rovedder na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) foi reconhecido a nível estadual. A pesquisadora venceu o prêmio O Futuro da Terra, promovido pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs). Desde 1997, a premiação nomeia pesquisas e trabalhos em avanço tecnológico e sustentável e no campo.
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A restauração ecológica consiste, de modo geral, na recuperação de áreas por meio da própria biodiversidade. Parte do trabalho de Ana Paula, junto ao Núcleo de Estudos e Pesquisas em Recuperação de Áreas Degradadas (Neprade) da UFSM, é feito em um sítio próprio na localidade de Três Barras no interior de Santa Maria. Ela trabalha em uma agrofloresta e no enriquecimento de uma área de topo de morro. A primeira tem produção de espécies frutíferas, lenhosas e hortaliças. Tudo sem agrotóxico e com a convivência sadia com animais como quatis, veados e bugios.
Diário - Como foi a recepção pelo reconhecimento do prêmio?
Ana Paula Rovedder - Receber esse prêmio foi uma surpresa inicialmente, porque eu não sabia da minha indicação. Fiquei sabendo quando a Fapergs me ligou e disse que eu seria premiada. Foi uma alegria muito grande. É um prêmio super conhecido na área das ciências agrárias. Eu já tinha acompanhado, em outros anos, colegas receberem. É algo significativo no Rio Grande do Sul. E é feito a partir de duas instituições de muita visibilidade e respeitabilidade.
Diário - O que é a recuperação de áreas trabalhada no Neprade?
Ana Paula - O Neprade completou 10 anos e temos fomentado pesquisa, ensino e extensão em recuperação de áreas degradadas, com foco na recuperação ecológica de ecossistemas. Trabalhamos como recuperar ecossistemas do Rio Grande do Sul (campestres, florestais e arbustivos) a partir da biodiversidade deles. A restauração ecológica tem como premissa trabalhar com o que é do ecossistema.
A gente atua tanto na região central quanto em outras no Estado. Temos trabalhos mais voltados ao Pampa, na metade Sul, no Sudoeste e Noroeste também. Trabalhamos a extensão como uma prática e consequência da nossa pesquisa. Com o que nós geramos em tecnologia e informação científica, trabalhamos os resultados para apresentá-los à sociedade. Nosso grande público-alvo são os produtores rurais e empresas que precisam de informação por restauração.
A parte de extensão é feita com dias de campo, palestras, capacitação e publicações. É o que chamamos de popularização do conhecimento científico. Trabalhamos na UFSM, em assentamentos da reforma agrária, no bioma Pampa. Trabalhamos com produtores e sugerimos, juntos, como enriquecer agroflorestas. Tudo de forma participativa. Nos dois últimos anos, a parte de extensão se limitou às publicações. Com a experiência em assentamentos, publicamos uma cartilha sobre sistemas agroflorestais. É tudo gratuito.
data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)
Diário - No sítio em Três Barras, mais especificamente, como funciona o trabalho de recuperação?
Ana Paula - No sítio, trabalhamos com áreas para, no ideal, trazer os alunos pós-pandemia. No ensino, implementamos disciplinas para capacitar alunos em recuperação e restauração ecológica. E apresentar o que estamos fazendo. Não apenas os alunos, trazer a comunidade.
Temos o início de uma agrofloresta. Trabalhamos espécies frutíferas, lenhosas hortaliças... tudo sem agrotóxico. Estamos no começo, mas temos um tempo até trazer os alunos. E também fazemos a restauração do topo de morro por meio do enriquecimento de espécies florestais.
Dentro das propriedades em que há histórico de uso intensivo, mesmo áreas que parece estar bem, quando adentramos a floresta, elas estão comprometidas, sem regeneração natural. O histórico do nosso sítio remete à essa situação. Era utilizado em pecuária, e o gado mata esse regeneração natural. O que fazemos agora é, através da restauração ecológica, promover essa regeneração natural e enriquecer a diversidade de espécie com plantios.
data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)
Diário - Qual a importância de trabalhos como esse no contexto ambiental atual?
Ana Paula - Nós vivemos em um momento bastante crítico em relação ao meio ambiente, no que tange o que temos ainda de remanescente natural, ao que temos de passivo ambiental (o que precisamos restaurar) e ao que nós temos de políticas ambientais. No Brasil, vivemos um momento de desmantelamento de políticas ambientas. Esse desmonte casa com um momento de crise climática, que não é do futuro, é do presente. Nós estamos vivendo a crise climática. Também há perda de áreas muito intensiva. No Rio Grande do Sul, perda de vegetação campestre e perda e degradação de outras formações - florestais, arbustivas, banhados, restingas do litoral. Esse trabalho, iniciado há 10 anos no Neprade, precisa atingir a sociedade. Precisamos de mobilização social, atingir comunidades e governantes. É uma crise do nosso momento contemporâneo e da nossa sociedade. A água é um grande exemplo de como tratamos mal os nosso ecossistemas. Vemos isso na falta de água, na escassez de chuva e na frequência maior de secas.